Se você ouviu um pouco sobre a Tanzânia, certamente os lugares Kilimanjaro e Serengueti apareceram a sua frente. Embora o maior pico da África, o monte Kilimanjaro, pode ser observado também da vizinha Quênia, a maior parte da montanha está na Tanzânia e é o orgulho do país. Já a planície Serengueti hospeda milhares – ou melhor, milhões – de mamíferos e é conhecida pela famosa migração de gnus-azuis, o maior movimento de herbívoros do planeta. Em busca de água e melhores pastos, dois milhões de animais fazem uma migração circular em torno do Parque Nacional Serengueti, chegando até o sul da reserva Maasai Mara na fronteira com o Quênia.
Pelo que eu já havia visto em diversos documentários de vida selvagem, o espetáculo é alucinante. Por isso, logo que entramos em Serengueti buscamos informações sobre onde se encontrava a colossal manada de gnus. Para minha frustração, os animais ainda desfrutavam da relva verde ao sul do parque e fomos avisados que não havia estradas abertas para chegar até eles. A única solução seria esperar um mês, quando a manada iria para o oeste ou esperar outros três meses quando o grupo se movimentaria para o norte. Com aquela clara sensação de que não podemos ter tudo na vida, adiamos o espetáculo da Grande Migração.

O Parque Nacional Serengueti hospeda muitos outros grandes mamíferos e, apesar de eu já ter fotografado dezenas de leões e elefantes, não hesitei em seguir as indicações de onde poderíamos encontrar um grupo desses animais. Na realidade, a planície é tão extensa que, sem informações atualizadas e detalhadas, é praticamente impossível encontrar os bichos. Geralmente, o melhor lugar para obter essas dicas é na sede do parque, onde as camionetes de safári acabam fazendo uma parada obrigatória para que os visitantes possam ir ao banheiro.
Depois de alguns erros de percurso – entramos na estrada errada um par de vezes – conseguimos, graças à poeira criada por outra camionete, encontrar um grupo de cinco leoas deitadas no pasto. Como é hábito, os felinos dormiam profundamente, mesmo se em pleno sol. Não havia jeito de fotografá-los. Seguimos a estradinha por mais um quilômetro e encontramos uma manada com mais de dez elefantes. Esses, sim, estavam acordados: sempre em movimento e comendo.

Um elefante adulto pode consumir, diariamente, entre 150 e 250 quilos de folhas, frutas e gramíneas.Como o animal passa 16 horas do dia se alimentando, a principal estratégia dele é caminhar para encontrar novos campos. Resolvemos seguir o grupo. Como eles estão a apenas algumas dezenas de metros da estrada, a cada 5 minutos colocamos o motor em marcha para acompanhar a manada.
Pouco a pouco, os elefantes vão ganhando terreno e – para nossa surpresa – reconhecemos que estamos perto do ponto onde as cinco leoas estão dormindo. O que acontecerá? Os elefantes continuarão a seguir na mesma direção quando descobrirem as leoas?
Decidimos ir mais perto das leoas. Quando chegamos, elas estão ainda deitadas. Mas o som de uma das fêmeas elefantas faz com que uma leoa levante a cabeça. Todas as outras fazem o mesmo, atentas ao grupo de paquidermes que se aproxima. A elefanta matriarca que abre o cortejo para de caminhar e levanta a tromba para entender melhor o ambiente. Como um periscópio, ela imediatamente capta o odor dos felinos. Lentamente, sem estresse ou sobre salto, ela prefere guiar seu grupo por outro caminho e seu trajeto muda de 90º, tratando de manter distância dos predadores. Mesmo se uma elefanta adulta pode encarar o ataque de uma leoa, o grupo contém vários filhotes que poderiam estar mais vulneráveis.

Uma aventura não menos interessante ocorre algumas horas depois do encontro entre leoas e elefantes.Nesse mesmo dia, quando passamos no meio de uma tropa de mais de 200 zebras, ouvimos um som estranho: furamos um pneu! Esse é o primeiro – e único – furo em toda a viagem de 40 mil km. Mas o lugar não poderia ter sido melhor. Se estivéssemos no meio de uma planície deserta, os perigos poderiam ser bem maiores e um de nós deveria ficar de olho nas redondezas. Cercados por tantas zebras – que pastam com tranquilidade – não há a menor possibilidade que um predador chegue perto de nós antes de ter causado uma comoção nos animais que nos rodeiam. Uma zebra positiva!
Nenhum comentário:
Postar um comentário