segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os antivírus estão com os dias contados


Depender de programa para se sentir seguro é indício de problemas.
Mudança de hábitos e uso consciente do PC são barreiras mais eficientes.


Há muitos anos, o conselho de utilizar um antivírus se enraizou no ramo da tecnologia e não mais saiu – tornou-se incontestável e dispensa evidências. Enquanto muitos usuários se preocupam com o melhor antivírus, não parecem se preocupar com a eficiência do antivírus em si. E se mesmo o melhor antivírus não for capaz de proteger? A realidade, porém, é exatamente essa: mesmo o melhor antivírus vai falhar, e ele só precisa falhar uma vez para que seu computador seja infectado.
Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados, etc), vá até o fim da reportagem e utilize a seção de comentários. A coluna responde perguntas deixadas por leitores todas as quartas-feiras.
Um exemplo: a pergunta mais comum a esta coluna sempre foi: “qual o melhor antivírus?”. Agora que usuários de Mac OS X estão se tornando alvo de pragas digitais, a pergunta mais comum deles é: “tem algum antivírus para Mac?”.
E enquanto se procura por uma solução “antivírus”, detalhes passam despercebidos: no caso do Mac, as configurações no Safari que poderiam dificultar a ação dos criminosos, e a atenção redobrada na hora de executar programas – dicas que poderiam evitar o contato com as pragas digitais e dispensar o antivírus de qualquer trabalho.
O antivírus hoje é útil apenas para o mais simples dos ataques – aquele que utiliza uma técnica já conhecida ou um código igual ou semelhante a outro que já foi usado. Para qualquer outro caso, o software não terá nenhuma chance. É por isso que, apesar do uso do antivírus ser inquestionável e comum, os vírus simplesmente não desaparecem e fraudes continuam se propagando.
Quem se expor aos riscos será infectado independentemente de possuir um antivírus. As pragas de hoje são renovadas todos os dias, recicladas e empacotadas de maneira que os softwares de segurança não as reconheçam mais. E embora eles às vezes consigam detectar as pragas novas, basta que uma consiga passar pela proteção. Crer na eficácia completa do antivírus como ferramenta de proteção vai contribuir apenas para uma sensação falsa de segurança.
De qualquer forma, essa verdade inquestionável apenas favorece as empresas antivírus. Certamente, não há nada mais fácil do que vender um produto que todo mundo está convencido de que precisa, ainda mais quando estas mesmas empresas são autoridade na divulgação de novas ameaças, aumentando o medo do usuário em ficar desprotegido. Mas o programa não é absolutamente indispensável.
Hoje, antivírus estão atrás dos vírus. Gráfico de 2008 da companhia antivírus Ikarus ilustra a mudança na indústria (Foto: Divulgação/Ikarus)Antivírus hoje já não estão ganhando a guerra contra os vírus. Desenho de 2008 da companhia de antivírus Ikarus ilustra a mudança na indústria (Foto: Divulgação/Ikarus)
Ineficiência dos produtos
Em 2006, a respeitada revista Consumer Reports resolveu criar códigos maliciosos para testar antivírus. Os resultados foram péssimos – nem as técnicas mais avançadas dos softwares conseguiram detectar os vírus criados para o teste da revista. No entanto, as companhias antivírus criticaram o teste e consideraram que ele violou a ética estabelecida na área por “criar pragas digitais”.
Ou seja, além de produzir os antivírus, são os próprios fabricantes que ditam como seus produtos serão avaliados.
O que o teste mostrou não deixa de ser verdade: eles apenas demonstraram a completa inutilidade dos antivírus diante de ataques direcionados, nos quais um criminoso irá, sim, desenvolver uma praga específica para seu ataque. Logo, empresas precisam de outras medidas além de um antivírus para detectar essas ameaças em sua rede.
Em outras palavras, um antivírus só funciona quando se supõe que o ataque está dentro do esperado. Esses são os ataques mais comuns diariamente, mas também são os mais fáceis de serem identificados pelo próprio internauta, desde que se tenha alguma consciência e prática.
Cercando os ataques
Embora a recomendação geral seja contra a instalação de dois antivírus, você pode testar arquivos suspeitos gratuitamente, via web e sem instalar nenhum programa, em 40 softwares no VirusTotal (http://www.virustotal.com). Ainda existem exames que você pode fazer pela internet, sem ter um software em execução o tempo inteiro no PC – também de graça.
Ou seja, é possível se apropriar das tecnologias dos antivírus quando houver dúvidas e ter respostas imediatas quanto aos riscos de cada arquivo.
 
Antivírus não protege seus dados – isso é tarefa do backup em pen drives, DVDs ou HDs externos, e de softwares gratuitos como o SyncToy (Foto: Reprodução)Antivírus não protege seus dados – isso é tarefa do
backup em pen drives, DVDs ou HDs externos, e de
softwares gratuitos como o SyncToy
(Foto: Reprodução)
Vale lembrar que muitas das pragas que um antivírus detecta – especialmente durante a navegação – são inofensivas. No pior dos casos, é um código malicioso incapaz de atacar seu computador - pelo menos se você estiver com as atualizações do sistema em dia; se não estiver, nada poderá salvar o PC de uma contaminação. Alguns antivírus chegam ao ponto de detectar meros cookies, que são completamente inofensivos – e às vezes sem indicar isso adequadamente ao internauta. Tudo numa tentativa de “mostrar serviço”.
Para se proteger dos vírus que apagam dados e de falhas físicas no disco rígido e no computador, é preciso ter um backup, ou seja, uma cópia de segurança (adicional) atualizada dos arquivos. Isso significa que o antivírus não deve ser considerado como protetor dos seus arquivos – essa é a tarefa do backup.
Quem utiliza um usuário limitado no Windows pode se ver livre de qualquer infecção, exceto as mais sofisticadas, apagando e recriando o usuário. E se a infecção for uma dessas sofisticadas, o antivírus também provavelmente foi deixado para trás.
Versões recentes do Office (2007 e 2010) são praticamente imunes a vírus em seus documentos: elas exibem um alerta e confirmam a execução, normalmente desnecessária para a leitura do conteúdo do arquivo. A Microsoft está também disponibilizando uma ferramenta que analisa a estrutura de documentos do Office para impedir a abertura de arquivos maliciosos – lembrando que o Office também deve ser sempre atualizado.
Se você sabe identificar links suspeitos e consegue controlar a curiosidade em redes sociais, o campo de atuação restante para um antivírus é pequeno.
Quando nada pode indicar o momento mais seguro para avançar, é preciso prestar atenção e aprender a identificar o risco (Foto: Reprodução)Quando nada pode indicar o momento mais
seguro para avançar, é preciso prestar atenção e
aprender a identificar o risco (Foto: Reprodução)
Testes em cidades européias apontam que motoristas tomam mais cuidado depois que semáforos foram retirados de avenidas, diminuindo acidentes e dando fluidez ao tráfego. Sem o “semáforo” ditando se seu computador está seguro ou não, é bem provável que você consiga prestar mais atenção nas situações de risco presentes na internet e perceber o que falta em suas atitudes para estar realmente protegido.
Se você considerar que antivírus não podem proteger o computador, e quem sabe até tentar desinstalá-lo por uns tempos para ver o que acontece, o que você faria para se proteger de pragas digitais?
Se você descobrir que faria algo diferente, provavelmente é esse hábito atual que está errado, tornando seu PC e seus dados vulneráveis aos vírus. Se você se sente inseguro ou que falta informação, é essa informação que deve ser buscada.
Embora os antivírus tenham um papel importante, especialmente em empresas e computadores públicos – que dificilmente têm controle sobre os seus usuários -, quem tem PC em casa precisa considerar outras medidas para se proteger. É mais eficiente atualizar sempre o sistema, cuidar dos plugins do navegador e criar cópias de segurança dos seus arquivos. O antivírus, ao contrário do que sugere o nome, já não é suficiente para proteger contra vírus.

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